Em uma sociedade cuja criminalidade atinge níveis alarmantes em todo
território nacional, o endurecimento e uma maior abrangência das leis
penais são as primeiras providências cobradas pela sociedade leiga aos
seus representantes. Desse modo, diante da busca desesperada por
resposta estatal, o Direito Penal, para essas pessoas, surge como o
grande vilão, responsável direto pelos desagradáveis índices de
criminalidade.
Esse tipo de movimentação, que incentiva a ojeriza ao Direito Penal e
cobra seu expansionismo como a panaceia dessa escalada, parece esquecer
que nenhuma lei é suficientemente boa e eficiente quando o aparato
estatal responsável por sua aplicação é carente de agentes e de
estrutura.
Antes de cobrarmos uma modificação drástica de nosso ordenamento como
forma de combater a criminalidade, é preciso direcionarmos essa mesma
energia aos estados e ao Governo Federal para que, em sintonia,
compartilhem estrutura e informações capazes de aplicar com eficácia os
milhares de dispositivos penais e processuais penais já existentes.
Segurança Pública alguma é suficientemente eficaz sem a participação
popular, ainda que dotada de todos os recursos de investigação.
Como é impossível o Estado ocupar todos os lugares, a população é sempre
a principal testemunha dos crimes. É ela que conhece a vítima ou o
delinquente, seu comportamento, suas amizades e seus inimigos.
Assim, sem colaboração, especialmente através de serviços como
“disque denúncia”, a atuação estatal tende a ser lenta e imprecisa.
Infelizmente, nossa cultura ainda está repleta de comportamentos que a
longo e médio prazo acabam contribuindo, direta ou indiretamente, para a
escalada da violência.
O distanciamento dos valores da família; a valorização exagerada aos
bens materiais; e a apatia perante os órgãos públicos, quando o problema
não lhes "pertence" são alguns dos ingredientes que podemos destacar
nesse panorama.
Desta forma, antes de cobrarmos mudança da legislação, cuja produção surge
como um reflexo momentâneo do sentimento humano coletivo, é importante
mudarmos os rumos do comportamento que muitos de nós temos adotado na
modernidade.
Costuma-se defender os rigores da lei aos que delinquem, o que em
determinadas situações pode parecer justo, mas não raras vezes nos
deparamos com tais “defensores” rogando o “jeitinho” quando se encontram
na mesma situação. Como nos ensina Ferrajoli, portanto, sigamos as
regras, estejamos envolvidos ou não, com o problema que atraiu o Direito
Penal.
O combate a criminalidade só surtirá efeitos duradouros, por mais leis
que tenhamos, quando resolvermos investir na raiz do problema. Com a
exaltação de valores que incentivam o respeito e o amor ao próximo, bem
como com pesados investimentos em educação (escola em tempo integral
pode ser uma alternativa) teremos, assim, uma chance de transformar essa
triste realidade em um mundo melhor para as próximas gerações.
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